Neste primeiro sábado de junho, estamos na véspera da festa de Pentecostes. Faremos companhia a Nossa Senhora durante quinze minutos, meditando sobre este mistério em que Nosso Senhor, depois da sua Ascensão, nos envia o Espírito Santo como tinha prometido.
Como sempre, a Virgem Santíssima está no centro dos momentos-chave da nossa Redenção. A sua humildade tornou possível a Encarnação do Filho de Deus no dia da Anunciação. Na sua fé, no Sábado Santo, guardou no seu coração a certeza da Ressurreição, e Jesus apareceu-lhe primeiro. Finalmente, através das suas orações, o Espírito Santo manifestou-se no Pentecostes. Agradeçamos à nossa Mãe do Céu e contemplemos esta terceira passagem em que ela se encontra no Cenáculo com os apóstolos.

Após a morte de Jesus na cruz, os apóstolos caíram pela primeira vez em desordem. A Ascensão volta a perturbá-los. Desta vez, o seu Mestre e Senhor deixara-os para regressar ao seu Pai. E, mais uma vez, sentem um grande vazio. É certo que tinham ouvido as palavras de Jesus e a sua promessa de lhes enviar o Espírito Santo. Mas o que é que eles podem fazer sem Cristo? Como é que podem agir? E a Virgem Santíssima está lá com a sua fé inabalável. Stabat Mater. Espera pacientemente como esperou pela Ressurreição. Os apóstolos vão cerrar fileiras à sua volta. Encontram n’Ela a coluna onde se apoiar na ausência de Jesus e o conforto de uma Mãe. Naquele dia de Pentecostes, escutam sem dúvida os seus ensinamentos e contemplam a sua serena confiança em Deus. Sim, a Virgem Santíssima tinha iniciado a sua missão de Mãe da Igreja. E o Espírito Santo desce do céu.
Porque é que foi necessária a vinda do Espírito Santo depois da Ascensão? Porque é que a terceira pessoa da Santíssima Trindade tem de intervir quando Cristo nos redimiu e, através da sua Eucaristia, já está connosco até ao fim do mundo? Para tentar compreender este mistério, olhemos para as aparências visíveis que o Espírito Santo escolheu para se manifestar.
A sua vinda caracteriza-se, antes de mais, por um vento forte, uma energia que não se vê mas que se sente. É assim que actua o Espírito Santo. É esta graça divina, esta vida espiritual que penetra em nós, enchendo a nossa alma e o nosso coração pouco a pouco, à medida que a nossa vida terrena avança. É ele que, através da sua ação invisível e dos seus dons, nomeadamente de sabedoria, de conselho, de inteligência e de piedade, nos ajuda a progredir na oração e na vida interior, e aproxima gradualmente a nossa alma de Deus durante a nossa vida terrena. Sentimos particularmente a sua presença nestas orações e acções de graças, onde somos por vezes transportados por alegrias interiores, porque Deus se digna revelar-se a nós por um breve momento, dando-nos um vislumbre do que será o paraíso com Ele. Estas alegrias são o fruto do vento do Espírito Santo que sopra na nossa alma.
Depois do vento, vêm as línguas de fogo. Antes de mais, o fogo purifica. É o temor de Deus que o Espírito Santo nos dá. Este temor, muitas vezes mal compreendido, não é um “medo” de Deus. É uma consciência aguda da realidade da nossa pequenez perante a magnificência e a grandeza de Deus. É a consciência da nossa pequenez perante a pureza infinita de Deus. Deste modo, o Espírito Santo traz-nos esta humildade purificadora diante de Deus. Maria estava cheia do Espírito Santo, cheia do temor de Deus e, por isso, perfeitamente humilde. Este é um dos dons essenciais do Espírito Santo, necessário para ir ter com Deus. Recusar o temor de Deus é colocar-se orgulhosamente ao nível de Deus. É repetir o pecado de Adão e Eva. Como dizia São Miguel: “Qui ut Deus”, quem é como Deus? O fogo é também o fogo do amor de Deus, que incendeia tudo quando lhe abrimos o nosso coração. Este amor de Deus irradia de nós e permite-nos, por nossa vez, amá-Lo e amarmo-nos uns aos outros. Esta capacidade de amar não vem de nós. É o Espírito Santo que no-la dá. Por fim, o fogo é o fogo da fé. Esta fé que move montanhas e que enviará os apóstolos a ensinar todas as nações.
É por isso que o Espírito Santo tem de vir. Para nos trazer tudo isto, e a sua ação completa a obra de redenção de Jesus. Mas a sua ação não é automática e depende de nós. O Espírito Santo não se impõe e respeita a nossa liberdade. Para que possa agir eficazmente nas nossas almas, é preciso que estejamos num determinado estado de espírito interior. O mundo, o ruído, o excesso de atividade, o consumismo desenfreado e as distracções bloqueiam a ação do Espírito Santo e deixam-no à porta da nossa alma. Não poderá agir, apesar do seu amor infinito por nós. É a parábola do semeador. O Espírito Santo não pode fazer nada num caminho seco ou numa pedra dura, mas pode fazer tudo numa terra boa.
A boa terra é o silêncio, a contemplação, o desprendimento das coisas deste mundo, o tempo que dedicamos a Deus todos os dias. No seu livro “O poder do silêncio”, o Cardeal Sarah recordou-nos, há alguns anos, a importância vital do silêncio para qualquer vida espiritual. Como nos esquecemos disso hoje em dia. O silêncio é uma parte essencial da Missa, em particular. É o Espírito Santo que nos ajudará a receber Cristo com dignidade e, depois da comunhão, ajudar-nos-á a rezar-lhe com verdadeiro amor no silêncio dos nossos corações. Sem um tempo de silêncio na Missa, sem recolhimento, será muito difícil encontrar verdadeiramente Cristo, apesar da sua presença real.
Há um método infalível para compreender como nos abrirmos à ação do Espírito Santo. Devemos contemplar a Sua obra maior: a Virgem Maria. Ela é cheia de graça e, portanto, cheia do Espírito Santo. É aquela que, ao longo da sua vida, nunca pôs o mínimo travão à ação do Espírito Santo. Ela é o exemplo a seguir. Os apóstolos que se perderam depois da Ascensão olharam para Maria e viram a sua humildade e a sua fé. Do seu exemplo retiram a força para esperar. E o Espírito Santo veio sobre eles. O mesmo acontece hoje. É unindo-nos à Santíssima Virgem, seguindo as suas virtudes, que teremos um meio seguro de aumentar a presença do Espírito Santo nas nossas almas. São Luís Maria Grignon de Montfort dizia: ” 
Hoje, perante a situação do mundo atual, estamos tão confusos como os apóstolos antes do Pentecostes. O que fazer, como atuar? A resposta está sempre em Nossa Senhora. Foi o que disse o Cardeal Burke, em 2017, no centenário das primeiras aparições em Fátima: “Somos como os primeiros discípulos depois do Pentecostes. que se interrogam sobre o que fazer num mundo que não crê. Não é sem razão que os fiéis se sentem confusos, desorientados até ao abandono (…) Em Fátima encontramos os meios dados por Nossa Senhora para responder a isto”. Entre estes “meios de Fátima”, conhecemos o terço, os primeiros sábados e a consagração. Mas há um que é muitas vezes esquecido, e que é fruto do mistério de Pentecostes: a oferta das dificuldades do seu dever de estado pela conversão dos pecadores.
É frequente ouvirmos falar de caridade material ou de “humanitarismo”. É necessária e Nosso Senhor pediu-nos que a fizéssemos na parábola do Bom Samaritano. Mas Ele não limitou o nosso amor ao próximo a isso, antes pelo contrário. Quer que cuidemos também da 
Assim, todos os dias, no nosso pequeno quotidiano, todos nós podemos salvar almas de uma forma simples, sem procurar mortificações extraordinárias. Almas que não conhecemos, mas que reencontraremos no Céu. “Uma alma justa pode obter o perdão de mil criminosos”, disse o Sagrado Coração durante as aparições em Paray-Le-Monial. É claro que isto não retira o apostolado direto às pessoas que a Providência coloca no nosso caminho, mas multiplica-o. Neste tempo de Pentecostes, que todos nós tomemos a decisão de integrar na nossa vida quotidiana a oferta das nossas dificuldades pela conversão dos pecadores.
Autor : Alliance 1ers Sábados de Fátima




